Vice-presidente do Senado reclama do tratamento dado aos jovens que
estão promovendo protestos nas ruas das cidades. E reclama: “Atirar com bala de
borracha mata”
A violência policial contra os
protestos e manifestações que varreram as cidades brasileiras nos últimos dias
virou tema de discurso do senador Jorge Viana (PT). Ele subiu à tribuna do
Senado, na tarde desta segunda-feira, 17 de junho, para reclamar do abuso da
força policial e pedir tolerância e respeito aos jovens que estão nas ruas.
“Todo grande e qualquer movimento
de transformação no mundo sempre teve o jovem lá na linha de frente –
reclamando da qualidade de vida que temos nas cidades brasileiras”, elogiou.
“Temos que fazer uma autocrítica. Qual é o partido político no Brasil que
estabeleceu como a maior e mais importante prioridade o funcionamento das
nossas cidades?”
“A manifestação dos jovens é
legítima. Nossa população não pode ser tratada como bandida”, criticou o
parlamentar. “Atirar com bala de borracha, mata. É uma arma menos letal, mas é
letal”. O parlamentar comentou que a máquina de repressão foi adquirida pelos
governadores e prefeitos para garantir a segurança, não para impedir
manifestações populares.
“Nunca vi tantos policiais nesse
país usando armas letais contra manifestantes. Não é aceitável”, disse. “Tem
que ter um posicionamento mais claro do ministro da Justiça, José Eduardo
Cardozo. E não se trata de buscar culpados, terceirizar o problema. Tem que
estarem juntos prefeitos, governadores e governo federal dialogando”.
VIDA URBANA
Viana considera que a qualidade
de vida das cidades está ruim e as reclamações proferidas nas ruas desde a
semana passada, quando manifestantes do Movimento Passe Livre ganharam algumas
das principais cidades, revela o nível de insatisfação da juventude que quer
soluções para o problema.
“Os jovens estão dando um recado
nas ruas: precisamos trabalhar em soluções para as nossas cidades. Estamos
diante de um impasse. As condições de vida nas grandes cidades estão muito
ruins”, advertiu. O senador petista disse que a responsabilidade por uma
solução precisa ser compartilhada pelas autoridades federais, estaduais e
municipais.
“Há um problema real nas cidades
brasileiras; que a manifestação se dá em cima de situações concretas,
legítimas”, comentou. “Acho que o pior remédio está sendo usado para tentar pôr
fim às manifestações, que é o uso da violência”.
“Hoje, muitas das nossas cidades,
principalmente as grandes capitais, tornaram-se modelos de insustentabilidade”,
destacou Jorge Viana. “Principalmente, mas não exclusivamente, porque o
transporte público é caro e ruim”. O parlamentar apontou que o movimento
surgido nas ruas é espontâneo e precisa ser compreendido.
Ele se lembrou dos ensinamentos
de Enrique Peñalosa, consultor em estratégias urbanas e ex-prefeito de Bogotá:
“Uma boa cidade não é aquela onde os pobres andam de carro, mas sim aquela onde
até os mais ricos usam o transporte público”.
Viana cobrou das autoridades
federais prioridade para o metrô. “Há décadas, nós estamos fazendo de conta que
estamos construindo metrô neste país”, disse, questionando: “Qual é a
prioridade deste país para transporte coletivo?” O senador lembrou que o
governo vem desonerando motocicletas e carro, sem dar prioridade ao transporte
coletivo. “Precisamos criar nas cidades mais ciclovias, faixas exclusivas para
motocicletas, para ônibus, para táxi, e, num plano ou outro, o carro comum”,
disse.
No discurso, ele citou reportagem
da Folha de S.Paulo publicada nesta segunda-feira, apontando São Paulo e Rio
como cidades com as tarifas de ônibus mais caras do mundo. “Insisto: 84% do
povo brasileiro vivem nas cidades que não funcionam, são insustentáveis, são
insalubres, principalmente para os mais pobres, que precisam sair de madrugada
para ir trabalhar e chegar já tarde da noite, se quiserem voltar para casa. Tem
que haver um basta”, concluiu.
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